O Resultado por escola do ENEM 2014 revela que aumentou a prática, entre as escolas particulares, de separar os alunos em unidades e/ou CNPJ’s diferentes para parecerem ser melhores do que realmente são.
Escolas que “não existem” representam 80% dos primeiros lugares no ENEM
Mateus Prado
05 agosto 2015 | 13:40
O Resultado por escola do ENEM 2014 revela
que aumentou a prática, entre as escolas particulares, de separar os
alunos em unidades e/ou CNPJ’s diferentes para parecerem ser melhores do
que realmente são.
Das 10 escolas com maior média no ENEM 2014, 8 delas são escolas de muitos alunos, só que a que aparece nos primeiros lugares do ENEM é uma escola com menos de 60 ou menos de 30 alunos. As escolas maiores, de mesmo nome, na mesma cidade ou até no mesmo endereço, também aparecem no resultado. Porém, se ranqueadas, estão em posições muito distantes das primeiras colocadas e com resultados, em geral, muito ruins se comparados aos das primeiras colocações.
Das 10 escolas com maior média no ENEM 2014, 8 delas são escolas de muitos alunos, só que a que aparece nos primeiros lugares do ENEM é uma escola com menos de 60 ou menos de 30 alunos. As escolas maiores, de mesmo nome, na mesma cidade ou até no mesmo endereço, também aparecem no resultado. Porém, se ranqueadas, estão em posições muito distantes das primeiras colocadas e com resultados, em geral, muito ruins se comparados aos das primeiras colocações.
A prática de ‘inventar’ escolas, para
aparecer entre as primeiras colocadas no ENEM, é feita por motivos
publicitários. O objetivo é usar essa informação nas suas propagandas
para que consigam captar mais alunos ou, em alguns casos, para que
vendam com mais facilidade seus materiais didáticos.
Algumas dessas escolas nunca participaram do
ENEM. Explico: foram criadas há poucos anos, somente para aparecer
entre as primeiras colocadas. A metodologia utilizada por essas oito
escolas é padrão: com centenas e centenas de alunos, elas escolhem os
que mais pontuam em simulados internos e os transferem para a escola ou o
CNPJ escolhido para servir como instrumento de publicidade.
Também utilizam de sistemas de captação de
alunos com alta performance em simulados e que estão matriculados em
outras escolas, inclusive de outras cidades. Boa parte desses alunos,
captados durante o ensino médio, são bolsistas parciais ou integrais
destas escolas. Não pagam, ou pagam muito menos do que os outros, não
necessariamente pelo mérito de acertar mais questões, ou por necessidade
socioeconômica, mas pelo simples motivo de que são ‘usados’ para os
interesses financeiros destas instituições. Algum interesse pedagógico?
Não, nenhum.
Os alunos, que vieram desse modelo de
captação, não foram formados por essas escolas durante todo o percurso
escolar. Ficam pouco tempo nelas, geralmente somente os últimos anos do
ensino médio ou somente durante o ensino médio.
Quando fazem propaganda de estar nos
primeiros lugares no ENEM, tais instituições passam a impressão de que
qualquer pai pode procurá-los e conseguir matricular seus filhos. Não é o
que acontece. Se hoje um pai procurar essa escola, terá seu filho
encaminhado para as unidades em que os alunos pontuam bem menos dos que
aqueles que foram ‘usados’ para a publicidade da escola.
Novamente, no resultado do Exame de 2014, o
primeiro colocado nacional é o Colégio Integrado Objetivo, de São Paulo,
que funciona no mesmo endereço do Colégio Objetivo, na Avenida
Paulista. No ano anterior a escola ocupava, ao mesmo tempo, o lugar 1 e o
lugar 569 da lista, depois de ranqueadas todas as escolas do Brasil que
tiveram mais de 10 alunos do terceiro ano prestando o
ENEM.(http://educacao.estadao.com.br/blogs/mateus-prado/campea-do-enem-e-ao-mesmo-tempo-a-escola-1-e-a-escola-569-do-brasil/).
Um destaque do ano é a cidade de Fortaleza.
Três escolas da cidade apareceram, em 2014, entre as 10 primeiras
colocadas do ENEM. Duas delas já separavam alunos, o que já estava
indicado nos dados dos anos anteriores, e uma passou a separar há pouco
tempo, aparecendo pela primeira vez entre as primeiras. As escolas de
Fortaleza parecem ter ‘aprimorado’ as suas formas de selecionar alunos
para aparecer entre as primeiras colocadas, e passaram a ser as
primeiras do Nordeste, resultado que tradicionalmente era do Dom
Barreto, de Teresina.
Os dados de Fortaleza refletem a situação do
mercado local, onde três escolas, todas muito grandes, disputam de
forma bastante agressiva o mercado de alunos de alta renda. Duas delas
possuem Sistema de Ensino que vendem para outras escolas, principalmente
do Norte e Nordeste, e que receberam grandes aportes financeiros nos
últimos anos.
Outro destaque são duas escolas, uma do Rio
de Janeiro e outra de Minas Gerais, que pertencem ao mesmo fundo
investidor e à mesma empresa (Fundo Gera, empresa ELEVA). Há dois anos,
essas duas escolas eram desconhecidas nacionalmente. No ano de 2013 a
escola do Rio de Janeiro, pertencente a este grupo, chegou a ocupar (ao
mesmo tempo) o lugar 3 e o lugar 2015 entre as escolas que tiveram mais
de 10 alunos do terceiro ano fazendo a avaliação. O controlador do grupo
Gera é o megainvestidor Jorge Paulo Lemann. Além de um dos homens mais
ricos do Brasil, Lemann é conhecido por ser assíduo doador de dinheiro
para projetos educacionais (através da Fundação Lemann).
Em Goiás também há uma escola que, para
aparecer entre as primeiras colocadas, matricula os alunos que costumam
ter maior rendimento em simulados na sua unidade de ensino fundamental
(os demais ficam na unidade do ensino médio).
As duas que aparecem entre as dez primeiras e
não utilizam esse padrão (de ‘inventar escolas’) são do estado de Minas
Gerais. As duas possuem alunos oriundos de famílias de alta renda
(quando cruzamos os dados de todas as provas do ENEM, até hoje, renda é a
principal influência nas notas da avaliação. Em média, alunos de maior
renda conseguem notas superiores aos alunos de menor renda). Não é
demais citar o colunista Hélio Schwartsman: “quando uma escola aumenta
sua mensalidade, ela aumenta sua nota no ENEM” (2014, adaptado).
Mais informações sobre os resultados por
escola do ENEM 2014 você encontra nos próximos dias aqui nessa coluna,
do Estadão, ou em minha Fan Page: https://www.facebook.com/enemsisu
Fonte: http://educacao.estadao.com.br/blogs/mateus-prado/escolas-que-nao-existem-representam-80-dos-primeiros-lugares-no-enem/. Acesso em: 07/08/2015.
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